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visível e invisível.
e ponto

(s)




sábado, setembro 15, 2007

Essa Vida Crônica



Vitor Diel (posando frente às litografias de Denize Roman) é um jovem cronista que tem publicado muito na internet. Em breve, sairá seu primeiro livro financiado pelo Fumproarte. Mas antes que o livro saia, leiam abaixo uma de suas crônicas, observem seu poder de síntese e como o cara sabe escrever bem. Ah, o ele tem um blogue super bacana, o Bumerangue!. Vai, mas volta, tá!

Economia Doméstica
Por Vitor Diel

Em tempos de previsões climáticas catastróficas, faz-se sensato pensar nas economias a serem feitas a fim de poupar-nos dos horrores do futuro, porque deixar as coisas piorarem para então tentar resolvê-las é burrice.

Portanto, siga-me:

É necessário poupar água. E comida também. Assim como paciência, inteligência e os ouvidos dos outros.

Temos que economizar o verbo, o substantivo e o adjetivo, porque o seu uso inconseqüente pode afetar nossas reservas no futuro. Poupemos as perguntas, porque assim pouparemos também as respostas. Poupando a literatura, pouparemos as árvores e as tintas da impressão.

Economizemos o tempo online para economizarmos os acessos aos sites eróticos e jornalísticos - estes às vezes tão pornográficos quanto aqueles. O que me lembra de poupar o sexo, para pouparmos os preservativos, os lubrificantes, os brinquedos sexuais, as taras, as fantasias e a imaginação.

Poupemos orgasmos, para pouparmos as molas do colchão. Poupemos as horas de sono, para também pouparmos as molas do colchão. Economia igualmente importante é a da política. Poupemos as promessas, as juras e os compromissos, assim, economizaremos em desilusão, desgosto, desespero e outras palavras que comecem com o prefixo "des". Poupemos as ligações telefônicas, os e-mails, os torpedos, os recados, os lembretes, os anúncios, os discursos e os avisos.

Economia no diálogo, no monólogo e no solilóquio. Economia de pensamento e de ação. Economia de reflexão. Poupemos Deus de nossa insatisfação eterna. Poupemos o terapeuta de nossa insatisfação eterna. Economizemos nos rituais, na pompa e na circunstância. Poupemos a tradição, a família e a propriedade. Poupemos a liberdade, a igualdade e a fraternidade. E a futilidade também.

Poupemos as uvas, para pouparmos o vinho. Aliás, poupemos as bebidas elaboradas e os drinks com nomes metidos a bacana.

Poupemos os refrigerantes e os refrescos. O ser humano só precisa de água. O que me lembra que é necessário poupar água.

Viu? Não é tão difícil poupar a humanidade.

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