Aqui, tatuo-me.

visível e invisível.
e ponto

(s)




terça-feira, novembro 28, 2006

Brigadeiros e refri

Então tá.

Dia 25/11 fez 01 ano que cá escrevo.

Parabéns e obrigado aos persistentes leitores!

quarta-feira, novembro 22, 2006

O Superman

Ando remexendo nas gavetas, pondo fora o que já não me serve, descongentionando o ambiente.

Dizem os especialistas em Psicologia que, ao fazermos isso, organizamos o externo para pôr em ordem o interno. Mas eu vivo fazendo isso! E meu interno nem é tão bagunçado assim! Enquanto vasculho gavetas, caixas, malas, vou deparando-me com outras partes de mim. Algumas já empoeiradas, outras danificadas, outras belas, muito belas, ainda inteiras. E, vasculhando, lembro da minha mãe. Ela gostava (não sei se ainda gosta) de juntar vidros e potes de plástico vazios, de café, de maionese, essas coisas. Ela dizia "vai que um dia eu precise". Eu sempre abominei esse hábito de minha mãe. Às escondidas, eu jogava tudo fora. Continuo jogando. Não quero acumular coisas inúteis que "um dia eu venha a precisar". Dizem, também, que queremos nos organizar internamente quando alguém aparece em nossa vida e a gente fica reciclando, apagando os fantasmas, mandando embora os monstros. Talvez isso seja verdade. Há dois dias eu remexo as gavetas e estou pondo fora coisas das quais nunca tive coragem de me desfazer. Coisas, como aquela caixa secreta onde guardava lembranças de ex-amores (sim, eu sou um romântico deste tipo). Enquanto remexo vou pensando que, o que nos foi, e ainda é bom, fica guardado numa caixa de carne e osso, que respira, ainda.

E no meio de tanta traquitana eu penso em outra coisa. Penso em por que, quando a gente está envolvido com alguém, a gente quer colocar a boca na outra boca? Esfregar a língua na outra língua. Por que a gente quer entrar dentro da outra pessoa? Lamber o corpo, chupar os dedos, morder a nuca, lavar seu rosto, secar seu corpo, comprar um doce pra ela e vê-la comer. Por que a gente quer gozar dela, com ela, pra ela? Sorrir, dormir, descansar, lanchar, assistir filmes, cozinhar, lavar louça, ir ao supermercado, ir à farmácia, a uma exposição, andar na rua, tomar cerveja, ironizar a vida, ser cúmplice no meio da pizzaria do que rolou minutos atrás, pegar uma luneta e observar as estrelas. Por quê? Por que a gente sente essa vontade de comer a outra pessoa, sem talheres e guardanapo de papel? O quê é essa coisa que acontece quando a gente está no trânsito caótico e aí, pensa naquela pessoa e tudo fica bem? E a gente tem uma ereção no mesmo instante em que o cara pede "umamoedinhapelamordedeus" por que a gente tá pensando na boca, no corpo, no jeito de sorrir, no jeito de olhar, no modo de dizer que gosta de você, da pessoa que está em outro ponto da cidade.

E agora eu to aqui pensando no porquê das pessoas escreverem sobre suas vidas em blogues?

Eu havia jurado que meu blog não se transformaria em um diário virtual porque isso reflete a necessidade das pessoas dizerem: Estamos aqui. Estamos vivos. Estamos no mundo. Como cantou Laurie Anderson* (encontrei-a em uma das minhas gavetas e, é claro, jamais a colocarei fora) na canção O Superman And there was a beautiful view but nobody could see. Cause everybody on the island was saying: Look at me! Look at me! Look at me! Look at me! Look at me! Look at me now! . Porque o Homem pós-moderno, ou seja coisa que o valha, tem a infinita necessidade de dizer que está presente neste mundo que não olha pra ele se não fizer coisas definitivamente incríveis. O mundo espera por heróis, mas quer que eles se auto-fabriquem. Por isto, há tanta gente tentando descobrir fórmulas inovadoras e inusitadas de fazer coisas surpreendentes. Para quê? Para que os outros digam Nossa! Vejam esse, ele é legal, ousado, criativo e logo em seguida o devorarem, aí sim, com talheres, guardanapo de papel e a voracidade do Homem das cavernas.


Eu não queria fazer do meu blog, um diário, uma gaveta. Mas já fiz. Afinal, eu também estou dizendo sim, eu existo! e não sei quanto tempo resta pra que os mundos saibam disto. Porque os mundos, puxa! Os mundos são ilhas. Você é uma ilha. Assim como eu, agora, remexendo em gavetas, prateleiras, e ouvindo Laurie Anderson cantar Hello? Is anybody home? Well, you don't know me, but I know you. And I've got a message to give to you.



*Artista visual, compositora, poeta, fotógrafa, cineasta, ventríloqua, bruxa eletrônica, escultora, vocalista e instrumentista, Anderson sempre brinca com arte e tecnologia. Vanguarda da música eletrônica, considerada chata e pretensiosa por uns e adorada por outros, ela é um ícone dos anos 80. Numa entrevista, Laurie Anderson disse que: "Toda história deveria ter começo, meio e fim, embora não necessariamente nessa ordem".

terça-feira, novembro 14, 2006

Charada

Nem muito

Nem perto

Nem outra coisa


Nem muita coisa

Sem pressa

Não prende

Nem presa


Nem prensa nada

Nem gesto

Nem símios

Não índios


Nem médios

Nem curtos

Nem cabelos longos

São longes


Nem piscam


Sem brincos

Não ligam pra umbigos


Nem egos


Nem brancos

Nem negros

Tão lindos

na lida, no limbo

Nem lambem


devoram

o que há dentro

e haverá de ter sido

ou se foi

já nem ligo


Não chamam

Nem ardem

Não armem fuzis

Nem alcovas

Raposas e ardis


E sonham

Não amam

E sonham

Nem amam

E sonham

Tão homens



São fatos

São fotos

Tão fodas

São flechas

Tão feitas, precisas


nem arcos

nem charcos


São brotos

Tão mansos

nem lidos


São cães


urinam nos postes

dão luz às sarjetas


Nem muita Nem tanto Nem quanto Nem



O que são?


R - Já nem sei.

segunda-feira, novembro 13, 2006

Parênteses

Abro parênteses na poesia desta telinha para a poesia da telona


Adoro filmes sobre viagens, em que as personagens saem em busca de si mesmas, por isso recomendo os seguines filmes:


1-Exílios - direção de Tony Gatlif - com Roman Duris (Albergue espanhol e Bonecas Russas) e Lubna Azabal. Produção: 2004. Idioma: Francês.

Exílios é uma fantástica viagem de autodescoberta, um retorno às raízes e um mergulho na alma. Esse filme magnífico tem como destaque as atuações e é impelido por uma trilha musical instigante que nos conduz a paisagens emocionais não cobertas pela história que ocupa o primeiro plano.

O roteirista e diretor Tony Gatlif alimentou esse filme de entretenimento picaresco com uma gama convidativa de momentos leves e outros de emoção inesperada. Há surpresas, e algumas delas vêm quando os personagens adentram regiões de seu ser que o seguro mundo francês em que viviam não havia aberto para eles.

De uma coisa Tony Gatlif não pode ser acusado: desconhecer o assunto que resolveu abordar neste filme. Argelino radicado na França, o diretor demorou 43 anos e 13 longas metragens para desafiar os 7.000 km que o separavam de sua terra natal e filmar esta migração ao inverso, esta busca pelo seu passado e suas raízes, a ponto de ter declarado que “o filme não nasceu de uma idéia, mas do desejo de mergulhar em minhas próprias cicatrizes”.


2- Café da manhã em Plutão - direção Neil Jordan (mesmo diretor de Traídos pelo desejo), com Cillian Murphy (Patrick "Kitten" Brady) Liam Neeson (Padre Bernard)Stephen Rea (Bertie). Produção: 2005. Idioma: Inglês

Patrick (Cillian Murphy) é travesti numa pequena cidade da Irlanda. Filho de um relacionamento entre uma doméstica e o padre local, depois de abandonado pela mãe Patrick foi criado por Ma Braden (Ruth McCabe), que não suporta seu jeito afeminado. Juntamente com seus amigos Charlie (Ruth Negga), Irwin (Laurence Kinlan) e Laurence (Seamus Reilly), Patrick decide sair de casa e partir em busca de sua mãe verdadeira.

“Café da Manhã em Plutão” é uma adaptação da obra literária de Patrick McCabe, sendo que na última vez que Jordan levou para a telona um livro do autor ele conquistou o Urso de Prata de Melhor Diretor em Berlim, no caso com “Nó na Garganta”, em 1997.

Neil Jordan coloca desde o início de Café da Manhã em Plutão, com seus pássaros-cronistas, todas as cartas na mesa: estamos diante de uma narrativa nitidamente fabular, onde exigir um alto grau de realismo ou verossimilhança seria, no mínimo, desonesto para com o filme.

3- Família Rodante - direção e roteiro de Pablo Trapero (diretor de Mundo Grua)- com Graciana Chironi (Emilia), Melhor Atriz no Festival de Gijón. Produção: 2004. Idioma: Espanhol (Argentina)

Os 12 integrantes de uma família embarcam em uma casa rodante rumo a uma festa de casamento, que será realizada na cidade-natal da matriarca da família.

No dia do aniversário de 84 anos de Emilia (Graciana Chironi) ela reúne em sua casa toda a família para um jantar de comemoração. É quando ela recebe um telefonema de Missões, sua cidade-natal a qual nunca mais retornou, com um convite para ser madrinha de casamento de uma sobrinha que nem conhece. Emocionada, Emilia repassa o convite a todos os integrantes de sua família. Eles decidem ir até Missões em uma casa rodante construída em cima de um velho Chevrolet Viking 56, no qual cabe os 12 integrantes da família. Durante a viagem as 4 gerações da família convivem com seus sonhos, frustrações, desejos e dúvidas.

Trapero busca um cinema do pequeno gesto, um cinema onde cada parte significa mais do que o todo, onde a aproximação da câmera com os personagens beira o absurdo. Seu cinema é um cinema pulsante, e um cinema onde a dramaturgia se constrói não só pela urdidura de uma sequência de ações (o roteiro), mas acima de tudo pela forma como cada uma destas ações é encenada pelo elenco e pela câmera que filma este elenco.


Boa diversão!

Mimetismo

crédito da foto Parco del Mincio



misturam-se

as pernas

os braços

as lágrimas


misturam-se

as palavras

os pensamentos

os jeitos


mistura-se

o que se dizem

boca a boca


brincam

na homocromia

dos gestos


anunciam-se

Camuflados

um em outro em um

terça-feira, novembro 07, 2006

ladainha

Obra by Márcia X


Felicidade!


Felicidade?



que ela não fique

que ela não seja


Cordeiro de Deus

que tirais os pecados do mundo

perdoai-nos Senhor



que ela não fique

não seja

que eu não ame


Cordeiro de Deus

que tirais os pecados do mundo

ouvi-nos Senhor



que ela não fique

não seja

que eu não ame

não mereça



Cordeiro de Deus

que tirais os pecados do mundo

tende piedade de nós



V.agora e na hora

R.hoje

V.do assassínio

R.dessa estranha felicidade


Amém!

quarta-feira, novembro 01, 2006

Rimas do meu cansaço

Veja bem:

quando abraça

a noite

meu cansaço


relaxo


na rima do teu regaço

o que meu corpo anseia

meneia o cabelo

à flor

que enleia meu pensamento


roubo do nada

este instante

que é tudo repouso

constante


nas dobras dos braços restantes

que o pouso responde ao cansaço


quem sabe

sei lá

onde


um suspiro se esconde

trocadOlho

há um lado

que me olha

de dentro

pra fora


depois o fora

me adentra

do lado

que meu olho

não olha


vejo coisas

dentro

vejo coisas

fora


vejo meu dentro no olho

que me olha

de dentro pra fora

na menina dos olhos

que meu olho

olha


a menina brinca

dentro

com o que não se encontra

fora


e se diverte

dentro

com o que adentra o olho

que ao me ver

m'olha