Aqui, tatuo-me.

visível e invisível.
e ponto

(s)




domingo, novembro 29, 2009

Confluências diárias

Para ler ao som de La Llorona * - Beirut (fundo musical deste blogue).

Aumente o som!

Finalizando um texto juvenil, reflito. Estímulo e temor. Sensação dúbia. A cada capítulo terminado encontro mais elementos para enrredar a trama, incluir personagens, substancializar o conflito, o foco. Mas, juvenil aceita conflitos paralelos?

Bem, na dúvida vou me maravilhando com novas possibilidades, mas... Melhor fazer uma pausa. Sair pra vida, beber, ver gente, conversar, cinema, café, whisky ou cachaça (virei adepto, não alcoólatra), relax. Em três dias de trabalho cheguei à conclusão de que o texto estava pronto. Enganava-me. Ele tinha mais a me oferecer do que eu havia extraído superficialmente dele. Dei-me conta disso na quina-feira, antes da tempestade que assolou Porto Alegre. Na verdade, a chuva limpou minha visão enquanto eu aguardava que a precipitação amainasse sob uma marquise. Metáfora? Eu me precipito ante o abismo e me sinto revigorado. Adrenalina e insulina. Simpático e parassimpático.

Hoje saí para almoçar. No caminho, pensando na estrutura do texto, no gênero, em relações paralelas (quando estamos envolvidos pela criação, pensar no assunto é uma constante), acometeu-me a vontade absurda de mudar/deletar as já 23 laudas produzidas. Voltar ao zero. Mudar o foco narrativo, aliviar a densidade do texto, explorar humor (não tenho familiaridade com essa vibe) ou, quem sabe, fazer uma salada mista de gêneros - fantástico, cômico e/ou maravilhoso instrumental, com elementos da alegoria?

Doido, eu? Provável, mas possível, creio. O ato criativo é esse desequilíbrio permanente entre certeza e dúvida. propulsão à diferença, suponho. Estranhamente, nesse devir, me sinto vivo. Por isso, talvez, eu revolva e revolva possibilidades a fim de me sentir vivo de fato.

Coço a cabeça, abandono o texto, durmo no meio da tarde esperando que o sono (ou o sonho) aponte respostas, saio a caminhar pelo bairro, leio ficção, loco filmes, releio teorias, pinto, desenho, reflito sentado ao vaso sanitário, fico sob o chuveiro ligado mais que o politicamente correto, vasculho escritos engavetados (virtualmente), revejo fotos, falo sozinho pela casa, ouço músicas (por pouco tempo. não consigo escrever ouvindo música. desvia minha atenção), organizo o guarda-roupa, ponho fora lixo acumulado nas gavetas da escrivaninha, fico olhando o nada onde encontro um pouco de tudo - clichê do clichê - pesquiso sobre assuntos afluentes na internet, me enfio nas livraras a espiar obras temáticas que convergem para a obra, tomo meus fitoterápicos e oligoterápicos, tensiono/relaxo a bolinha que ganhei para aliviar o stress, folheio o dicionário, jogo scramble comigo mesmo, pratico jogos para o pensamento criativo da série How to think!, fico olhando o teto, jogo palavras no priberam a fim de conhecer seus significados.

Tanta água convergindo a favor da criação. Bom. Enfim, o prazer imenso: escrever.

Por isso a angústia se acomoda em mim quando minha agenda não me concede espaço para escrever. A ansiedade adere à rotina e aprisiona-me a possibilidade da escrita literária, reconheço. Corro de um lado ao outro a fim de ser eficiente em tudo o que faço. E me canso. Vou à exaustão. Disperdiço energia em coisas eventuais. Por que?

Mas, se me delato (me relato) nesse post, é provável que esteja atento, compreendendo minhas variações de humor, percebendo lapsos obtusos que se alinham na direção oposta ao meu prazer, vendo o dia correr apressado na contramão do meu desejo. Preciso aprender a usar o Não para atender ao meu Sim, mesmo que isso possa surtir individualismo voluntário. O que não fere em nada ao outro se o resultado concreto disso for um jeito possível de comunicação. Ou um jeito possível de por em diálogo o belo e o grotesco em sintonia produtiva e reflexiva.

Retorno à dubiedade, lugar confortável onde o escuro nem sempre o é.

E a luz pode ofuscar, intimidar o secreto a que me proponho.

*Llorona é uma lenda mexicana sobre uma mulher que matou seus filhos e se suicidou. No Brasil, leva o nome de A bela da noite.

sábado, novembro 21, 2009

The book of love

But I love it when you read to me
And you can read me anything